terça-feira, 27 de março de 2012

ESTUDO ERRADO

Gabriel - O Pensador

Eu tô aqui pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater. Sem recreio, de saco cheio porque eu não fiz o dever. A professora já tá de marcação porque sempre me pega disfarçando, espiando e colando toda a prova dos meus colegas. E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo. E quando chega o boletim lá em casa, eu me escondo. Eu quero jogar botão, vídeo game, bola de gude. Mas meus pais só querem que eu “vá pra aula!” e “estude!” Então dessa vez eu vou estudá até decorar, cumpádi! Pra me dar bem e minha mãe deixar eu ficar acordado até mais tarde. Ou quem sabe aumentar minha mesada pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?) Não! De mulher pelada. A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada. E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa, pirralhada!) A rua é perigosa. Então, eu vejo televisão (tá lá mais um corpo estendido no chão) Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei o que é inflação – ué, num te ensinaram? – Não. A maioria das matérias que eles dão, eu acho inútil. Em vão, pouco interessante, eu fico pu... Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio (Vai pro colégio!!!) Então eu fui relendo tudo até a prova começar. Voltei louco pra contar.

Manhê! Tirei um dez na prova. Me dei bem, tirei um cem, eu quero ver quem me reprova. Decorei toda a lição. Não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom, mas tirei dez (Boa, filhão!)

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci. Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci. Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi.

Decoreba: esse é o método de ensino. Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino. Não aprendo as causas e conseqüências, só decoro os fatos. Desse jeito até história fica chato. Mas os velhos me disseram que o “porquê” é o segredo. Então, quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo. Porque quero usar a mente pra ficar inteligente. Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente. E sei que o estudo é uma coisa boa. O problema é que sem motivação, a gente enjoa. O sistema bota um monte de abobrinhas no programa. Mas aprender a ser um ignorante (...) Ah, um ignorante. Por mim, eu nem saía da minha casa (Ah, deixa eu dormir) Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre. Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste – O que é corrupção? Pra que serve um deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita. Ou sobre a tênia solitária. Não me faça decorar as capitanias hereditárias!!! (...) Vamos fugir dessa jaula! “Hoje eu tô feliz” (matou o presidente?) Não. A aula! Matei a aula porque num dava. Eu não agüentava mais! E fui escutar o Pensador, escondido dos meus pais. Mas se eles fossem da minha idade, entenderiam (Esse num é o valor que um aluno merecia!) Iiiih... Sujô (hein?) O inspetor! (Acabou a farra, já pra sala do coordenador!) Achei que ia ser suspenso, mas era só para conversar. E me disseram que a escola era meu segundo lar. E é verdade. Eu aprendo muita coisa, realmente. Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre! Então, eu vou passar de ano! Não tenho outra saída. O ideal é que a escola me prepare para a vida, discutindo e ensinando os problemas atuais. E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais, com matérias das quais eles não lembram mais nada. E quando eu tiro dez, é sempre a mesma palhaçada:

Manhê! Tirei um dez na prova. Me dei bem, tirei um cem, eu quero ver quem me reprova. Decorei toda a lição. Não errei nenhuma questão. Não aprendi nada de bom, mas tirei dez (Boa, filhão!)

Encarem as crianças com mais seriedade, pois na escola é onde formamos nossa personalidade. Vocês tratam a educação como um negócio, onde a ganância, a exploração e a indiferença são os sócios. Quem devia lucrar, só é prejudicado. Assim cês vão criar uma geração de revoltados. Tá tudo errado e eu já tô de saco cheio! Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...

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